terça-feira, 19 de abril de 2011

Colecionismo, por Karina Campos. (copiado na íntegra)

O Colecionismo


Karina Araújo Campos.

            Para compreendermos um dos Transtornos mais comuns (mais que possamos imaginar), que é o T.O.C. por Colecionismo, traçaremos o conceito de TOC e abordaremos o assunto por abordagem cognitivo-comportamental do indivíduo que apresenta esse transtorno.

Estudos atuais apontam que o TOC é um dos distúrbios psiquiátricos mais freqüentes sendo que eles se caracterizam como idéias obsessivas e rituais compulsivos reconhecidos pelos pacientes como excessivos ou irracionais. As categorias de compulsão são as seguintes: compulsões de limpeza, de verificação, as obsessões puras, lentidão obsessiva e o colecionismo que vem sendo estudado atualmente.


O colecionismo é definido pelo DSM-IV como um critério diagnóstico para o transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo, caracterizado pela incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não tem valor sentimental.


Pesquisas realizadas indicaram que o os colecionadores casam-se menos, são mais perfeccionistas, apresentam maiores índices de psicopatologia e que a idéia de colecionar está ligada a quantidade. O colecionismo tem início na infância, ocorre em famílias e compõem um quadro mais grave e de difícil tratamento. Estudos feitos com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo colecionadores e não-colecionadores mostraram que pacientes colecionadores são mais deprimidos, ansiosos e com mais problemas relacionados a família, além de apresentarem dificuldades em habilidades sociais.


Frost e Harti (1996), definem o colecionismo como:
1-                            aquisição de um grande número de objetos considerados inúteis e de pouco valor, combinado a uma extrema dificuldade em desfazer-se desses objetos;
2-                            a ocupação de espaços pelos objetos colecionados de forma desorganizada, dificultando ou impedindo o uso adequado desses espaços;
3-                            o comportamento de colecionar causa um prejuízo significativo na vida do indivíduo.


O colecionismo é influenciado por déficits no processamento cognitivo: como forma de deficiência na tomada de decisões, deficiência na categorização e organização, além de dificuldades no funcionamento da memória. A indecisão é uma característica marcante do TOC. A deficiência em tomar decisões se deve a uma dificuldade grande em decidir o que deve ser jogado fora.


Colecionistas têm também a deficiência em categorizar e organizar, pois os pacientes com TOC tendem a ter um pensamento mais complexo e detalhado.


Em relação à dificuldade de memória existem dois problemas: a falta de confiança na memória e a supervalorização de lembrar de algo, por isso, o colecionista vê a necessidade de guardar um objeto que esteja ligado a um fato, a algo.


Vários estudos também indicam o apego emocional excessivo: colecionadores consideram várias de suas possessões como extensão deles mesmos.


Temos também a evitação comportamental ligada ao perfeccionismo, indecisão e apego emocional. Por fim, o último fator desse modelo são as crenças que os colecionadores têm em relação às possessões.


As crenças mais comuns são: 1- sobre a necessidade de se manter o controle sobre as possessões; 2- sobre a responsabilidade em relação à possessão; 3- sobre o perfeccionismo.


Ou seja, o Colecionismo é um comportamento / o ato de colecionar objetos e coisas de todos os tipos onde o indivíduo não concebe a possibilidade de não ter seus objetos, e que os mesmos estejam permanentemente em seu ambiente. O indivíduo que apresenta o TOC por Colecionismo não consegue diferenciar um objeto que ele precise de outro que ele pode descartar de sua vida, ou seja, para ele tudo lhe será necessário, mesmo que seja daqui a vinte anos. Ele precisa mantê-lo por perto. Em termos de exemplificação, o indivíduo que apresenta este transtorno guarda no mesmo envelope o documento de compra e venda da casa, juntamente com rótulos de medicamentos, ou papel de bala, ou bula de remédio já fora de mercado, ou um papel de bombom ganho há vários anos. Tudo para ele tem o mesmo grau de importância, o que mantém plena desorganização congnitiva e comportamental.

Alguns programas da TV americana, como por exemplo o “Cada coisa em seu lugar” (nome em português), do Canal Home & Health, nos dão a possibilidade de conhecer casas, pessoas e situações que demonstram claramente o que é o T.O.C. por Colecionismo. A apresentadora do programa várias vezes questiona à pessoa que vai ter a casa arrumada e suas coisas “jogadas fora ou levadas para outro lugar” se após essa reforma ela fará terapia. Me pergunto: os que realmente apresentam o transtorno, em quanto tempo voltam a ter a casa desorganizada e invadida por objetos desnecessários para sua vida?

Nesse ínterim, introduzimos também o consumismo, que é uma das características comumente encontradas em pessoas com T.O.C. por Colecionismo. O comportamento de comprar compulsivamente objetos variados que o sujeito acredita serem necessários. Para completar, a indústria do neuromarketing excita ainda mais os consumidores nas compras. Será com a finalidade de completar-se, tentar identificar o que falta em sua vida que o sujeito compra compulsivamente? Será para preencher os espaços (poucos) vazios? Os espaços externos são preenchidos enquanto que o vazio interior é cada vez maior.

Neuromarketing é o termo utilizado à partir da década de 70 por Gerald Zaltman e Ale Smidts, em 2002, que estuda as variáveis capazes de influenciar as pessoas a comprarem determinado produto (mesmo sem dele precisarem).

Certamente, a psicologia traz tratamentos terapêuticos através de suas várias abordagens, mas uma das que surtem efeitos positivos e mais rápidos é a Terapia Cognitivo-Comportamental, através da Análise Funcional.

 “As variáveis das quais o comportamento é função dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou funcional. Onde tenta-se prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é nossa “variável dependente”- o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas ´”variáveis independentes”-as causas do comportamento- são as condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas –relações de “causa e efeito” no comportamento- são as leis de uma ciência.” CCH,1953.

Gonçalves (1993, p. 30), nos traz uma processo de tratamento realizado pela Macroanálise, no que diz:
“Muito raramente a problemática do cliente nos aparece circuncrita a um sintoma específico. Pelo contrário, na maior parte dos casos, assiste-se a uma coerência histórica e funcional na organização do repertório comportamental e cognitivo do cliente. O objetivo da macroanálise é o de proceder a um levantamento geral dos vários problemas e da história das aprendizagens do cliente, de modo a possibilitar o esclarecimento da relação funcional entre as várias áreas de seu funcionamento.”

Portanto, algumas dificuldades são encontradas ao se realizar o processo da Análise Funcional, como:

·        Na identificação de eventos antecedentes e de eventos conseqüentes, semelhantes às dificuldades encontradas na definição da classe de respostas.
·        Identificação de conseqüências múltiplas seguindo um comportamento.
·        História de vida
·        Variáveis fisiológicas e genéticas
·        Variáveis culturais
·        Operações estabelecedoras
·        Estímulos condicionais

A Análise Funcional na clínica é, em sua maioria, modelada por contingências, classes de respostas do comportamento, no caso  do T.O.C. do paciente. As dificuldades encontradas referem-se à organização da multiplicidade dos dados e não das dificuldades teóricas.

Quando se fala em comportamento, os seguintes aspectos devem ser destacados:
a. o objeto de estudo da análise do comportamento - o comportamento - é sempre uma relação ou interação entre eventos ambientais (estímulos) e atividades de um organismo (respostas);
b. nenhum dos dois termos da relação (ou seja, estímulo e resposta) pode sofrer qualquer tipo de restrição metodológica.
c. A relação organismo-ambiente pode envolver uma situação aparentemente simples (por exemplo, lacrimejar ao descascar cebolas, abrir uma porta ao ouvir uma campainha) ou obviamente complexa (por exemplo, solucionar um problema, abstrair, conhecer a si mesmo).
d. para descrever e explicar qualquer comportamento devemos então descrever as interações que o constituem e a história que produziu estas interações.

Concluindo, os resultados de estudos dizem que o TOC Colecionismo pode ser tratado com eficácia através da terapia cognitivo-comportamental, considerando-se o tempo do processo terapêutico de cada indivíduo. O paciente, que geralmente sabe e sofre com o TOC por Colecionismo vai gradativamente “eliminando” objetos que passam a ser vistos e considerados “sem valor”, garantindo-lhe melhorias cognitivas na tomada de decisões, de segurança em si mesmo, melhorias nas habilidades sociais e autonomia.

Obs.: Para saber mais seguem links de vídeo do You Tube:

Referências Bibliográficas:

Transtorno Obsessivo-Compulsivo: tratamento cognitivo-comportamental de um caso de colecionismo. Autores: Maria Amélia Penido, Bernard Pimentel Rangé e Leonardo F. Fontenelle.

Campos, Karina Araújo. Belo Horizonte, maio de 2010
fonte: http://psicologiaexisthumana.blogspot.com/2010/06/toc-transtorno-obsessivo-compulsivo-por.html, consultado em 19/04/2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário